segunda-feira, 19 de março de 2012

Democracia, uma obra inacabada

Em 2012, São Paulo ganhará museu que conta a trajetória de nosso país até se tornar um Estado democrático de direito


   O Brasil percorreu um longo caminho de lutas para se tornar um Estado democrático de direito, e agora uma instituição pretende contar essa história: o Museu da Democracia, concebido pela Fundação Mário Covas. O projeto da entidade foi elaborado pelo jornalista e escritor Roberto Pompeu de Toledo e pelo historiador Marco Antonio Villa.

    O Museu da Democracia pretende ser um espaço de difusão da cultura democrática por meio de exposições, debates, seminários, cursos e outros eventos. A instituição também vai reunir depoimentos de personagens históricos, documentos, fotos, objetos, textos e vídeos. A primeira etapa do projeto consiste na criação de um museu virtual, a ser lançado até o primeiro semestre de 2012. A sede física do museu ocupará as instalações da antiga Secretaria de Segurança Pública, na avenida Higienópolis, em São Paulo. Ainda não há data prevista para sua abertura. Por enquanto, o processo de criação do museu pode ser acompanhado pelo site oficial da instituição.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Um memorial do holocausto no Brasil

Acervo da instituição, a primeira do gênero em nosso país, aborda a perseguição aos judeus na Europa no século XX e os fluxos migratórios para o Brasil


   Curitiba entrou na lista das cidades do mundo que contam com uma instituição dedicada ao tema das perseguições aos judeus no século XX. Este mês o Museu do Holocausto será aberto à visitação e conta com uma exposição de longa duração que abrange um período que vai da década de 1920 até os dias de hoje. A mostra aborda desde a época pré-nazista na Europa até as consequências do Holocausto para a comunidade mundial, incluindo os fluxos migratórios para vários países, entre os quais o Brasil.

    O acervo inclui documentos, objetos pessoais e simbólicos relacionados ao tema, graças às parcerias com instituições museológicas nacionais e internacionais, além de doações feitas pela comunidade judaica. Um dos exemplos é um fragmento da Torá, o livro sagrado do judaísmo, doado pelo Museu do Holocausto de Jerusalém, e um cartão de racionamento alimentar usado no campo de Buchenwald, na Alemanha.

    Outro objeto curioso é uma réplica da boneca de Zofia Burowska, que viveu nos guetos de Wolbrum e Cracóvia, na Polônia. Depois de passar por vários campos de concentração, ela acabou libertada na Alemanha e recuperou a boneca, que havia sido guardada por amigos não judeus em Cracóvia.

    Durante a visita, as histórias contadas são tristes e há imagens duras, porém não faltam elementos curiosos como o violino exposto em uma das salas do museu. Ele pertenceu ao garoto Mordechai Schlein, que aos 12 anos encantou nazistas com o som do instrumento. Eles não sabiam, porém, que Mordechai, ou Motele como era chamado, roubava explosivos e guardava no estojo do violino. Foi convidado para divertir os oficiais durante semanas e, um dia, depois de tocar acabou explodindo o local com os nazistas dentro, em 1941. O garoto morreu dois anos depois em uma batalha.

    “São cenas difíceis de serem vistas. Mas foram atos cometidos por seres humanos. Então, a ideia é lutar contra a intolerância e fazer com que a gente consiga viver em um mundo melhor”, diz Miguel Krigsner, idealizador do museu. A família do pai do empresário, de origem polonesa, conseguiu escapar do nazismo. Miguel vive no Brasil desde 1961.

    Além de colocar à disposição do público material audiovisual, o museu abre espaço para a discussão e reflexão sobre o preconceito e a violência, tomando a questão judaica como exemplo e abordando também outros exemplos de genocídios ocorridos ao longo do século XX. A coordenação da instituição conseguiu reunir depoimentos de 14 judeus sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, que mais tarde se estabeleceram em Curitiba. Entre elas está a polonesa Bunia Finkel, que passou 495 dias dentro de um buraco cavado em um celeiro. “Meu pai marcava cada dia com um risco”, conta.

MUSEU DO HOLOCAUSTO. ONDE: Rua Coronel Agostinho Macedo, 248, Curitiba (PR). QUANDO: Visitas a partir de 12 de fevereiro de 2012, mediante agendamento, de terça a domingo. CONTATO: www.museudoholocausto.org.br

segunda-feira, 5 de março de 2012

Galileu não foi o primeiro a dizer que a Terra gira em torno do Sol

Suas ideias mudaram tudo o que se sabia sobre o movimento dos astros, certo? Errado!

   É comum atribuir ao italiano Galileu Galilei (1564-1642) a criação do heliocentrismo. Apesar de o astrônomo renascentista ter contribuído muito para a aceitação dessa teoria no meio científico, a ideia de que a Terra se move em torno do Sol já vinha se desenvolvendo desde a Antiguidade.

    No século V a.C., o filósofo grego Filolau formulou pela primeira vez a hipótese de que nosso planeta não ocupava o centro do Universo. Para ele, a Terra girava em torno de um “fogo central”, cuja luz era somente refletida pelo Sol. Posteriormente, no século V d.C., astrônomos indianos elaboraram teorias sugerindo que o globo terrestre orbitava ao redor do Sol e mencionando o que chamaríamos mais tarde de “lei da gravidade”.

    Estudos do tipo continuaram a ser produzidos em plena Idade Média, mas o geocentrismo de Aristóteles e Ptolomeu perdurou, graças à Igreja Católica, como forma mais aceita de entender o movimento do planeta.

    Foi preciso esperar até o século XVI para que o heliocentrismo alcançasse o status de teoria científica, e devemos esse avanço não a Galileu, mas ao médico e astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543). Suas pesquisas resultaram na obra Das revoluções das esferas celestes, concluída em 1530 e publicada em 1543, na cidade de Nuremberg, pouco antes da sua morte.


   O livro contradizia abertamente a Bíblia, e os opositores do heliocentrismo se multiplicaram contra a chamada “revolução copernicana”. A ideia de que a Terra girava em torno de si própria e, assim como todos os demais planetas conhecidos, em torno do Sol rendeu críticas ferrenhas vindas de nomes como Martinho Lutero (1483-1546), que chegou a chamar o cientista de “paspalho”.

    A obra de Copérnico foi continuada por cientistas como o matemático alemão Johannes Kepler (1571-1630) e, principalmente, por Galileu. Suas descobertas confirmaram a coerência do heliocentrismo, do qual o italiano se tornou um defensor fervoroso, e mostraram uma série de falhas no sistema geocêntrico.

    Em 1616, o heliocentrismo foi renegado oficialmente pela Igreja, e a obra-prima de Copérnico foi posta no índex (lista de livros considerados heréticos pela autoridade eclesiástica). Mesmo assim, Galileu continuou seus trabalhos e, protegido pelo papa Urbano VIII (1568-1644), publicou em 1632 o livro Diálogo sobre os dois grandes sistemas do mundo, um misto de elogio ao heliocentrismo e escárnio do geocentrismo.

    A repercussão da obra foi enorme e, para seu autor, trágica: Galileu foi condenado à prisão perpétua pela Inquisição e seu texto foi proibido. Graças à influência de Urbano VIII, sua pena foi transformada em reclusão domiciliar, mas o tempo da punição não foi diminuído.

    A censura às obras que defendiam o heliocentrismo só foi revogada mais de um século depois, em 1757, pelo papa Bento XIV (1675-1758). Somente então passamos a redescobrir a genialidade de Galileu, que, embora não seja criador do heliocentrismo, teve um peso inegável na construção da visão que hoje temos do Universo.